Meu Primeiro Passo de Gigante: Quando Quebrar Me Fez Crescer

Dizem que coragem é seguir mesmo quando tudo ao seu redor parece dizer para parar. O meu primeiro grande passo de gigante foi assim: não aconteceu no auge, nem em um momento de glória. Aconteceu no fundo do poço. Aconteceu quando, quebrado, desiludido e envergonhado, precisei escolher se eu me rendia ou se me reconstruía.

Aos 17 anos, abri meu primeiro negócio. Uma empresa de informática, montagem de computadores, cabeamento estruturado, manutenção e fornecimento de equipamentos. Era uma oportunidade que apareceu e que eu, mesmo jovem e inexperiente, agarrei com tudo. Nos três primeiros anos, a empresa cresceu. Aos 19 anos eu já tinha funcionários, faturamento, clientes e um ego que crescia ainda mais rápido que o CNPJ.

Eu era chamado de “menino prodígio” pela família, admirado pelos amigos. Tinha dois carros, tinha comprado terreno no interior, fazia faculdade de engenharia eletrônica (que na época já havia se tornado secundária). O sucesso me chegou cedo e, com ele, a ilusão de que eu sabia tudo.

O problema é que eu realmente achava que sabia. Eu acreditava que saber vender, montar computador e entregar os serviços técnicos era mais do que suficiente. Eu não entendia nada de gestão de pessoas, de finanças, de processos; e pior: eu nem sabia que precisava entender disso. Me faltava consciência.

Quando os desafios começaram a surgir, eu ignorei. Quando os primeiros clientes foram embora, eu culpei o mercado. Quando os fornecedores apertaram, eu achei que era injustiça. Quando o faturamento caiu, eu continuei agindo como se o problema fosse passageiro. E assim, tudo o que construí nos três primeiros anos se desmanchou em pouco mais de um ano.

Comecei a vender tudo o que eu tinha para manter o sonho vivo. Vendi o terreno, vendi os carros, qualquer coisa para dar fôlego. Comprei um Uno 0km como último suspiro, dei uma entrada com o que restava e parcelei o restante. Achava que aquele folego financeiro seria meu recomeço. Não foi.

Na segunda parcela eu já não conseguia pagar. E aí, veio o dia mais duro de todos. Vendi o Uno para quitar a dívida do próprio carro. Pedi para meu pai me buscar. Entrei no carro, sentei do lado dele, virei o rosto para a janela e chorei. Não consegui nem olhar nos olhos dele. Ele sempre me alertou sobre os riscos do empreendedorismo, com o cuidado e o amor de um pai que só quer proteger. E ali, eu estava quebrado, falido, ferido e ele ao meu lado, em silêncio.

Cheguei em casa, fui para o meu quarto e chorei mais. Senti vergonha, dor, tristeza. Foi um dos momentos mais duros da minha vida. Mas também foi um divisor de águas. Foi ali que começou, de verdade, o meu primeiro passo de gigante.

Na manhã seguinte, depois de uma noite de oração e reflexão, acordei com uma clareza inexplicável. Pela primeira vez, eu entendi que a culpa de tudo era minha. E essa consciência, que poderia ter me derrubado ainda mais, foi justamente o que me levantou.

Porque quando você entende que a culpa é sua, você percebe que a solução também está nas suas mãos.

Ali, naquele quarto, sozinho, comecei a desenhar minha reconstrução. Fiz um “debriefing” da minha própria queda e entendi que quebrei por não saber três coisas essenciais: gestão de pessoas, gestão financeira e gestão de processos. Três pilares que eu ignorava, mas que decidi ali, que seriam minha base.

Mas eu precisava pagar contas. Eu tinha dívidas com faculdade, com cartão de crédito, com fornecedores, com pessoas. Eu precisava voltar ao mercado. Foi quando decidi abrir mão do orgulho e aceitei ser funcionário CLT. Entrei no mercado de segurança eletrônica, e ali descobri um novo universo. Me posicionei como vendedor técnico e, nos dois ou três anos seguintes, fui um dos melhores vendedores por onde passei.

Mas não era só sobre vender. Eu decidi aplicar, em escala menor, tudo aquilo que havia prometido para mim mesmo. Comecei a estudar obsessivamente sobre gestão de pessoas, me tornei um profissional melhor, mais estratégico. Estudei processos e criei os meus próprios: agenda, rotina, priorização, disciplina. E, principalmente, criei um plano de gestão financeira pessoal. Me comprometi com cada real que entrava, desenhei metas de quitação das dívidas e, com muita austeridade, consegui sair do buraco.

Trabalhei duro, dia após dia. E, durante esses três anos, reconstruí não só minha vida financeira, mas minha mentalidade. Eu entendi que coragem não é só ousar quando se tem segurança. Coragem é decidir evoluir mesmo quando tudo ao redor te empurra para o fundo. Coragem é ser humilde para aceitar ajuda, aprender, recomeçar.

Esse foi meu primeiro passo de gigante. O mais difícil. Mas também o mais transformador.

Anos depois, voltei a empreender. Hoje sou sócio, investidor, mentor e conselheiro de diversos negócios. E trago comigo uma bagagem que não veio de livros, mas da vida. Tenho inúmeros outros momentos de coragem para compartilhar, mas o primeiro, é o que mais me marcou. Porque foi ali que eu descobri que a verdadeira força não está em acertar sempre, mas em reconhecer o erro e ter a grandeza de se levantar melhor do que caiu.

Se você está lendo esse livro, talvez esteja diante do seu próprio passo de gigante. Talvez esteja prestes a desistir. Talvez tenha acabado de cair. Ou talvez esteja prestes a dar um salto e precise de um empurrão.

Seja qual for o momento, saiba: tudo muda quando você assume a responsabilidade pela própria história. A dor passa. A vergonha cicatriza. E o que fica é a maturidade que transforma.

Se você tiver coragem para isso, o seu próximo passo pode ser o mais importante da sua vida.

Adalberto Bem Haja é empreendedor, engenheiro eletrônico e referência no mercado de segurança eletrônica. CEO da BHC Sistemas, CVO da Bycon e sócio do CT Hub e do Seg Summit. É investidor em mais de 120 startups pela Bossa Invest, onde também lidera um fundo voltado para o setor de segurança. Foi eleito Global Top Influencer pela IFSEC Londres e é autor do livro “O Sequestro da Segurança.

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