Passo do Gigante do Comandante Lucca

A expressão “Passo do Gigante” é muito conhecida pelos mergulhadores. Acontece quando embarcado e totalmente equipado, o mergulhador está na borda do barco prestes a saltar para a água.

É um momento com muita tensão, pois todo o equipamento pesa, a máscara dá uma sensação claustrofóbica, as nadadeiras só são adequadas no meio líquido e é chegada a hora de uma ação decisiva para enfrentar o medo e ter a coragem de fazer esse Passo do Gigante.

Assim, podemos, por analogia, nos lembrar de vários momentos da vida quando tivemos que dar o Passo do Gigante para enfrentarmos nossos medos com a virtude da coragem em nosso apoio.

Todos nós na vida, seja no campo pessoal ou profissional,  já tivemos que dar “Passos do Gigante”. Na minha vida foram vários, mas escolhi um para compartilhar com você no lançamento do livro do meu amigo e irmão, Kleber Reis.

No Comando do GATE fui chamado para intervir na antiga FEBEM de Franco da Rocha. A situação era caótica, pois todo o presídio estava dominado por menores infratores que mantinham funcionários como reféns.

Centenas de menores, divididos na parte de baixo do presídio, onde ficavam as celas, mantinham reféns. Essa parte foi rapidamente dominada pelo contingente dos policiais que chegaram antes do GATE na ocorrência. A outra centena de menores violentos estava sobre o teto que era uma laje, muitos sob o efeito de drogas e, além de espancarem os reféns que eles haviam conduzido à laje para intimidar os policiais territoriais, eles também começaram a empurrar os reféns para quedas mortais do alto da laje de forma completamente violenta.

Foi essa a cena com a qual me deparei e tive que planejar uma ação imediata para resolver a crise.

Colocar escadas para acessar a laje era inviável pois eles poderiam empurrar a escada e isso oferecia grande risco.

Uma descida de rapel utilizando os dois helicópteros que estavam disponíveis no local, era uma alternativa melhor, mas a desvantagem, de ter que pairar o helicóptero, descer as cordas e iniciar o rapel, era de que os menores poderiam alcançar as cordas antes do desembarque e isso colocaria em demasiado risco  não só os policiais do GATE, mas também a tripulação dos helicópteros e isso inviabilizou essa alternativa.

Eu tinha que criar uma nova tática.

Embarcamos, eu e mais três policiais no primeiro helicóptero e outros quatro policiais do GATE em um segundo helicóptero.

Comuniquei ao Comandante da Aeronave que iríamos fazer o desembarque com um salto à baixa altura sem rapel. A vantagem é que teríamos o fator surpresa, pois era algo inusitado, a desvantagem era que éramos apenas oito contra centenas de menores ensandecidos de ódio e violência.

Os helicópteros sobrevoaram e repentinamente fizeram a aproximação, já com os policiais sobre os esquis, eu era um deles, e tive de dar o meu “Passo do Gigante” quando então saltei junto com os meus companheiros.

Uma célula tática de oito homens coesos, coordenados e com união de propósito implacável, partiu na direção dos menores infratores que, incrédulos com o que tinham acabado de ver, correram para a extremidade da laje e acataram a minha determinação de liberar os reféns e o resto dessa operação é procedimento recorrente.

O que vale dessa história é que posicionado no esqui do helicóptero eu tive que dar o meu “Passo do Gigante” com coragem, para fazer aquilo que foi durante muitos anos o propósito da minha vida: ”Salvar vidas”.

Que essa história faça você também lembrar dos seus momentos da vida que te exigiram coragem. E quando qualquer hesitação ou medo se apresente, lembre-se das lições do livro: “Passo do Gigante – Como vencer seus medos” escrito por Kleber Reis. Um verdadeiro guia prático sobre CORAGEM.

Kleber não está sozinho . Guimarães Rosa, já ressaltava em sua obra: “Grande Sertão: Veredas”:

 “… a vida é assim: … O que ela quer da gente é CORAGEM”.

Diógenes Lucca

Ex Cmt do GATE